O termo edifícios de uso misto (ou mixed use, em inglês), também denominados de edifícios multifuncionais, é um conceito que inovador que vem crescendo no Brasil e, atualmente, vem se tornando uma grande aposta em algumas cidades brasileiras pela performance gerada para seus investidores, empresários e moradores e também pela forma criativa de execução deste tipo de edificação.
O projeto que hoje já é uma tendência nas grandes metrópoles do mundo todo, contrasta com o caos do trânsito gerado pelo acúmulo de veículos por meio da aplicação de delineamento urbano fragmentado, que durante muito tempo buscou separar áreas residenciais e comerciais, o que atualmente se mostrou um problema pois criou um fluxo de tráfego de veículos tão grande capaz de fazer um cidadão levar algumas horas de deslocamento entre trabalho-casa e casa-trabalho.
A vida urbana cotidiana vem passando por transformações constantes, que acabam englobando fatores tecnológicos e econômicos, interferindo positiva e negativamente os nossos comportamentos. Sendo assim, buscando uma melhor harmonização entre a vida profissional, pessoal e lazer do cidadão, arquitetos e urbanistas, idealizam projetos que possam viabilizar o modo de viver e habitar nas cidades, procurando alternativas de melhoria da qualidade de vida.
Os edifícios de uso misto vem para atender uma necessidade crescente da redução de stress com trânsito, aumento do tempo produtivo e de qualidade de vida com a família e oportunidades de entretenimento diferenciados.
Edifícios de usos no Brasil: Histórico
A grande intenção com o uso dos edifícios de uso misto é poder englobar diversas atividades em um mesmo ambiente, o que possibilitaria a pessoa morar, trabalhar, fazer compras e divertir-se dentro do mesmo espaço. Os edifícios de uso misto, nada mais são do que ambientes que harmonizam diferentes usos no mesmo projeto, independentes entre si, cada um com sua própria gestão, mas que ao mesmo tempo se complementem, se tornando um sistema completo para seus moradores e usuários. Os edifícios uso misto são como cidades verticais, onde o objetivo é gerar energia e vivacidade para as cidades grandes, aproximando pessoas, e beneficiando a todos com esta interação.
É uma verdadeira solução para a mobilidade urbana, já que unifica diversas necessidades do cidadão contemporâneo e resolve diversos problemas como o trânsito, baixa taxa de ocupação e segurança pública.
Edifícios de uso misto podem ser integrados em um único ou em um conjunto de edifícios, podendo eles serem compostos com múltiplas finalidades, indo desde áreas residenciais, comércios, serviços, entretenimento, lazer, educação, cultura, etc.
Zeidler[1] conceitua em sua obra que o edifício de uso misto é uma ideia, nem um conceito, e que é até mesmo difícil o classificar com exatidão, mas que para ser considerado um edifício multifuncional é necessário não apenas ter várias funções (moradia, trabalho, lazer, etc.), mas também estar relacionado com o modalidade urbana e com a busca de um maior qualidade de vida para os usuários, conceito esse defendido também pela autora Dziura[2] que acrescenta ainda que tanto edifícios relativamente pequenos quanto complexos podem ser considerados multifuncionais.
Um dos principais objetivos destes edifícios de uso misto, é eles serem acrescidos de múltiplas funções, permitindo que o convívio e a interação entre seus usuários sejam maiores entre as atividades citadas, focando em dar vitalidade do espaço.
Em um dos trechos de sua obra, a arquiteta e urbanista Dziura menciona:
“A implantação dos edifícios multifuncionais no Brasil acompanhou o processo de verticalização que ocorreu a partir da década de 1920, e teve como marco inicial as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Devido a vários fatores, entre eles o desenvolvimento tecnológico, a industrialização, a atuação dos agentes imobiliários e os interesses políticos.”
A autora Dziura menciona como referência o Edifício Marquês do Herval construído em 1953 pelo escritório MMM Roberto dos irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto, percursores da arquitetura moderna na país. O edifício, hoje um clássico da arquitetura do rio de janeiro, era composto por 21 andares contando com escritórios, ambientes para comércio e apartamentos residenciais em sua constituição.
Dziura ilustra a edificação carioca no trecho de sua obra como “A combinação dos acessos e a presença de comércio atraem as pessoas a entrarem no edifício, isto é, há uma preocupação projetual em integrar o espaço público com o semipúblico do edifício de modo a trazer os transeuntes para o interior do edifício, por meio da permeabilidade espacial. O pavimento térreo consiste no espaço de integração dos espaços internos em rua pública, sendo o local onde acontece os fluxos, as barreiras e permeabilidades.”
Outro projeto extremamente inovador para sua época, já mencionado em outro artigo nosso, é o Edifício Esther, construído em 1936 e com inspiração na arquitetura alemã de Bauhaus com autoria dos arquitetos Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, localizado no centro de São Paulo, que comportava em sua pavimentos com áreas comerciais, uma área com jardim, salas corporativas e escritórios.
Arquitetura que requalifica a cidade
Esse estilo de projeto no Brasil, já foi conceituado em outros tempos, entretanto, esta nova concepção de estilo de vida urbano casa muito bem com a estrutura que os edifícios de uso misto propõem, fazendo com que projetos como este, voltem a ganhar relevância e destaque. Na região sudeste, em especifico na cidade de São Paulo, esse conceito foi amplamente aproveitado, ajustando área territoriais de alta valorização e colaborando para a consolidação de eixos comerciais. Até então, estes espaços eram localizados no centro da cidade e jamais estariam vinculados ao uso habitação. Com uma nova estilização do conceito se tornou possível fundir os benefícios que diferentes tipos de imóveis traziam separadamente para um único local, os edifícios de uso misto proporcionam, então, uma ótima relação entre espaço público e privado.
O conceito dos edifícios uso misto no Brasil vem ganhando força e se tornando forte tendência nas grandes cidades. O objetivo destes edifícios é aproximar as pessoas para dentro destes empreendimentos, criando um ambiente produtivo. Um dos maiores proveitos dos edifícios de uso misto é a experimentação da fusão de ambientes. Esse novo conceito que vem sendo reinventado visando mobilidade urbana vai ser tornar cada vez mais presentes nos centros urbanas pela sua capacidade de revitalização de centros e usabilidade, traduzindo em um único ambiente produtividade e eficiência com maior qualidade de vida para seus usuários.
[1] ZEIDLER, Eberhard. H. Arquitectura Plurifuncional em el contexto urbano. Barcelona: Gustavo Gilli, 1985.
[2] DZIURA, Giselle Luzia. Permeabilidade espacial e zelo urbanístico no projeto arquitetônico: da Modernidade à Pós-Modernidade nos edifícios multifuncionais do Eixo Estrutural Sul de Curitiba, 1966-2008. 2009. Tese (doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009