A questão da mobilidade urbana se tornou um dos maiores problemas mundiais, afetando cidades em todos os continentes, não sendo uma exclusividade tupiniquim, metrópoles como Nova Iorque, Londres e Tóquio investem quantidades exorbitantes de dinheiro para solucionar esse revés do mundo moderno. Devido a esse enorme problema cotidiano, diversos especialistas e até mesmo cidadãos comuns procuram decifram esse enigma, nesse sentido a arquitetura e a engenharia são umas das áreas que podem nos ajudar respondendo uma pergunta muito importante: O quanto morar perto do ambiente de trabalho ajuda na redução da aglomeração de veículos e tráfego urbano?
Vamos levar em consideração o tempo que uma pessoa gasta para se deslocar até o seu trabalho, entre idas e vindas e levando em consideração um tráfego pesado de veículos, podemos levar de 30 minutos à 1 hora e meia do seu dia com deslocamento, podendo se estender para as grandes metrópoles, além do tempo improdutivo da viagem, a locomoção pode gerar desgaste físico e mental, visto que o trânsito é caótico e as condições das estradas são péssimas, o que afeta diretamente nosso psicológico e estado de ânimo. Sem contar o fato de perdermos um tempo precioso do nosso dia tais inconveniências diárias não agregam em nada nossa qualidade de vida.
Talvez você esteja com o pensamento de que esse problema é exclusivo de capitais e grandes centros, mas vários dos colaboradores da Mude, por exemplo, vivem essa realidade no seu dia a dia levando em média 20 minutos para se deslocarem para o ambiente de trabalho, estamos falando de Dourados, uma cidade da região centro-oeste com aproximadamente 210 mil habitantes, ou seja, mesmo em cidades de médio porte o problema de mobilidade já é realidade, essas informação nos leva a refletir e nos questionarmos: Você gostaria de morar próximo do seu trabalho?
A arquitetura e engenharia, pensando nessa questão desenvolveram o conceito de uso misto (ou mixed use, em inglês), esses projetos já não são novidade na área da arquitetura, e vem se formatando como uma ótima opção de planejamento urbano, se enquadrando perfeitamente em nosso cotidiano e, acompanhando o crescimento desse conceito, tornando-se um padrão de empreendimento para o futuro.
Por muito tempo, o planejamento urbano segmentou determinadas áreas dentro da cidade, fazendo com que ocorresse uma divisão entre áreas residenciais e comerciais por exemplo. Infelizmente já estamos habituados com este tipo de modelo segmentado de determinadas áreas, porém, podemos ver que ele não é o mais prático quando se trata de produtividade e eficiência urbana.
Projetos de edifícios de uso misto estão sendo muito bem aceitos no mundo, inclusive no Brasil, justamente por proporcionarem um agrupamento lógico e inovador em um mesmo edifício, contando com espaços residenciais, salas corporativas, lojas, ambientes comerciais e até mesmo espaços educacionais, como escolas e centros de treinamento.
Edifícios de uso misto projetados nas grandes metrópoles mundiais
Este tipo de empreendimento, visa agrupar em seu ambiente ou na mesma região do bairro, escritórios, lojas, áreas de entretenimento e residências de forma anexa. Os projetos de edifícios de uso misto atendem às quatro principais funções urbanas: morar, se locomover, produzir e se entreter/divertir.
Esse movimento é ainda maior nas grandes cidades, em resposta à necessidade latente dos residentes em escaparem dos longos percursos entre a casa e o trabalho, escola ou lazer. É o conceito de cidades compactas dentro de uma metrópole, criando novos núcleos, ambientes autossustentáveis com relação aos tipos de usos.
Para o senso comum os empreendimentos baseados no mixed use são aqueles prédios com bonitas fachadas, estruturas espelhadas e andares divididos entre áreas comerciais, escritórios e moradia. Entretanto o conceito é bem mais complexo, e são projetados buscando ganhos de produtividade, possibilitando mais tempo de qualidade, entretenimento, atividades de lazer e descanso. Arquitetos e urbanistas projetaram os edifícios de uso misto, com o intuito de dar vida às áreas comerciais nas grandes metrópoles.
A exemplo de Tóquio no Japão, esses projetos de edifícios de uso misto foram projetados visando um melhor aproveitamento em zonas que antes eram exclusivamente formadas de prédios corporativos, visto que após horário comercial, estas áreas se tornavam verdadeiros desertos, áreas sem vida nos períodos noturnos e aos finais de semana. Em virtude disto, os projetos de edifícios de uso misto vêm com a proposta de aumentar a circulação de pessoas com a expansão destes espaços em um único ambiente com possibilidades diversas.
Londres e Nova Iorque são outras grandes metrópoles que a cada ano vem aderindo a este modelo de edificação, partilhando do objetivo de construís áreas mais humanas e de melhor convivência. Usar o conceito de uso misto permite obter maior circulação de pessoas nas estruturas, os prédios de uso misto contribuem em suas localidades, fornecendo maior sensação de segurança, além de contribuir com o giro da economia local.
Outro grande exemplo de edifícios de uso misto é o Complexo Paju Unjeong, localizado na Coreia do Sul, um espaço composto por 562m2 harmonizando ambientes comerciais e residenciais, sendo constituídos em quatro pavimentos e dividas em duas unidades para uso comercial e cinco unidades para habitação. Diferentemente do habitual modelo que está sendo implantando no Brasil o estilo do complexo, podendo ser considerado uma releitura de um galpão com maior modernidade e estilo, apresenta somente quatro andares, um modelo um pouco distante do padrão nacional.
O conceito de uso misto do Brasil para algumas referências de arquitetos e urbanistas podem ser encontrados no Edifício Esther, pioneiro projeto nacional remontando à década de 30, projeto para o empresário do setor sucroalcoleiro Paulo de Almeida Nogueira, que almejava ter um ambiente multifuncional que comportasse a área administrativa, comercial e contábil da empresa e que ainda contasse com unidades residenciais. Apesar do conceito ter evoluído para um novo patamar, esse prédio projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho se tornaram uma joia da arquitetura modernista de São Paulo na época.
Edifícios de uso misto são apontados como soluções para os problemas das grandes cidades
De maneira geral, podemos observar que os edifícios de uso misto trazem enormes benefícios para seus usuários, dentre eles podemos citar: otimização de tempo, comodidade, facilidade de deslocamento, proximidade ao acesso comercial, maior conectividade social, ampliação da segurança pública, e consequentemente, uma melhora considerável na qualidade de vida, já que todos esses privilégios podem ser usufruídos em um único ambiente com diversos espaços.
Com uma visão ampla, todos serão beneficiados com este tipo de edificação, as próprias empresas que compõem o edifício ganham, visto que a assiduidade de seus colaboradores será maior, agregando uma maior interação entre empresa/colaborador. O setor varejista e de alimentação também se beneficia já que uma maior circulação de pessoas faz com que a segurança pública se faça mais presente e ativa no entorno das edificações.
A própria cidade tem muito a ganhar com ambientes neste estilo. Essa combinação orgânica tende a crescer nos próximos anos, ainda que o plano diretor de algumas cidades precise de ajustes quanto a esses empreendimentos. Estudos e estatísticas comprovam que as grandes cidades necessitam de projetos que explorem oferecer ambientes onde as pessoas possam trabalhar, viver e aproveitar seu tempo livre.
Essa é a comprovação de que a tendência dos espaços de uso misto chegou para ficar. Com adaptações a cada comunidade e oscilando entre estilos, os edifícios de uso misto abraçam tanto o cidadão quanto o trabalhador oferecendo ambientes extremamente humanizados e focados em ampliar a experiência dos usuários.